Mulheres do verão ao outono de Castilho

                                                                  Ana Cristina Comandulli (UNIRIO/RGPL)

 

António Feliciano de Castilho sempre manteve uma atitude de respeito, de consideração e de incentivo ao papel da mulher como membro das letras. Esse respeito às mulheres, Castilho aprendeu em casa e levou consigo para o resto de sua vida. Pelo menos, esta é a primeira impressão que temos ao ler a biografia escrita por Júlio de Castilho e muitas palavras do próprio Castilho. A admiração e o respeito devotados à mãe pode ter sido uma razão para Castilho apoiar a escrita feminina ao longo de sua vida, mas, como António Feliciano de Castilho, além da possibilidade de ter sido ensinado a respeitar as vocações das mulheres, expandiu seu pensamento a ponto de apoiar escritoras? Quais foram as mulheres mais importantes no percurso literário de Castilho? Essas são algumas perguntas que desejamos elucidar na trajetória de vida do poeta português.

 

Os mistérios de Gervásio Lobato

Andreia Alves Monteiro de Castro (UERJ)

 

A presente comunicação tem como objetivo evidenciar como Gervásio Lobato, em Os invisíveis de Lisboa e em Os mistérios do Porto, discutiu a situação daqueles que não se encaixavam no padrão social vigente. Ao divulgar suas obras nos periódicos da época, o autor prometia aos seus leitores histórias picantes, reviravoltas rocambolescas e mistérios policiais, mas acabava por oferecer crítica social e análise política.

 

José de Alencar e o Imperador: leitura de Visconde de Taunay sobre o Segundo Reinado

Antônio Marcos Dutra da Silva (UERJ/IESP)

 

Ainda que seja razoavelmente reconhecida a importância da obra de Visconde de Taunay dentro da crítica literária, sua contribuição à historiografia e particularmente seu papel enquanto historiador e intelectual com um pensamento político ainda permanece quase desconhecida. Nesse sentido, propor uma leitura capaz de aproximar as diferentes abordagens e os contextos da vida do autor, tomando como referência a História dos Conceitos (especialmente inspirado em Pocock e Koselleck) bem como os recentes trabalhos desenvolvidos por Christian Lynch na linha de teoria e pensamento político brasileiro, auxilia na superação das simplificações. O presente texto objetiva lançar luz sobre a leitura de Taunay sobre as transformações do presente político brasileiro quando da passagem da Monarquia à República, tomando como referência seu artigo “José de Alencar”, no qual a vida intelectual e política do Segundo Reinado é posta em revista. Ainda que sejam aproximações iniciais da temática e pesquisa, as reflexões de Alfredo de Taunay são imprescindíveis para se obter um painel mais exato das tensões, divergências e choques presentes nesse processo de transformação política a que se assistia entre as décadas de 1880 e 1890.

 

Alexandre Herculano: uma revisão do modelo romântico

Carla Carvalho Alves (USP/FAPESP)

 

Alexandre Herculano vem sendo, juntamente com Almeida Garrett, reverenciado como grande expoente do Romantismo português. A apreciação crítica de sua obra literária, entretanto, apresenta-se, ainda hoje, inconsistente e lacunar. Dois fatores, principalmente, concorreram para tal situação: a grande expressão pública do autor e a concentração da crítica e do público leitor em torno de Eurico, o presbítero. A apreciação literária referente ao restante da obra, particularmente a ficcional, parece um tanto contaminada, ou mesmo limitada, por esses fatos, tendo como consequência a incompreensão e omissão de elementos literários incompatíveis com determinadas expectativas já cristalizadas. Pretendemos, então, estabelecer algumas reflexões relativas à obra ficcional de Herculano, buscando revisar a linhagem crítica estabelecida e retratar aspectos até agora negligenciados. Para isso, abordaremos criticamente uma questão comumente destacada em análises referentes à obra herculaniana: a exemplaridade do passado medieval para um presente em decadência, constituída pelo modelo heroico atribuído à conjunção entre o indivíduo e a nação.

 

Cenas ultrarromânticas nas crônicas da Revista Universal Lisbonense

Eduardo da Cruz (UFRRJ/RGPL)

 

Como redator da Revista Universal Lisbonense, cargo que ocupou entre janeiro de 1842 e junho de 1845, António Feliciano de Castilho era responsável por transcrever, nas páginas desse periódico, as notícias que recebia no escritório da redação. Além de breves notas informativas, o poeta publicou mais de duzentas crônicas sobre variados casos que ocorriam em Portugal, sobretudo em Lisboa, muitos deles semelhantes ao que se lê nas obras consideradas ultrarromânticas. Destacaremos, nesta comunicação, algumas dessas narrativas e o olhar de Castilho sobre esses casos.

 

Homem vira bicho vira homem: Fialho de Almeida e a “ótica deformante”

Elisabeth Fernandes Martini (UERJ)

 

José Valentim Fialho de Almeida (1857 – 1911), jornalista, crítico teatral e contista, foi daqueles autores que fez por onde arrancar a sociedade portuguesa de fin de siècle da sua zona de conforto. Pretendemos, a partir da leitura do conto “Sempre amigos” (Contos, 1881), lidar com duas diferentes configurações de família e a subsequente interação entre os atores. Há que destacar, na narrativa curta, elementos insólitos e grotescos que oportunizam aos personagens fialhianos a transmutação de bichos em homens e homens em bichos, como em um jogo de espelhos, próprio da sua “diabólica óptica deformante”.

 

As Recordações de Itália, de A. P. Lopes de Mendonça: uma obra política

Julianna de Souza Cardoso Bonfim (UERJ/RGPL)

 

P. Lopes de Mendonça, o autor das Memórias dum Doido, obra pela qual é mais reconhecido, escreveu, em 1852, uma obra que reúne crônicas e pequenas narrativas – as Recordações de Itália. Como o próprio nome diz, o livro é oriundo de uma viagem do autor ao país que seria futuramente a Itália, que à época ainda não se encontrava unificada. Não obstante ter sido bastante elogiada, essa obra jamais foi analisada a fundo (é apenas citada pelos teóricos que se debruçaram sobre a obra mendonciana) e teve apenas uma edição. Propus-me, então, na minha dissertação, a elaborar uma edição anotada, com breves notas, das Recordações, fazendo, em paralelo, um breve estudo da obra, considerando sobretudo os aspectos políticos, cerne de toda a obra de Mendonça. O presente trabalho é uma breve comunicação a respeito desta obra e dos estudos a partir dela, com vistas a inseri-la no rol das obras mendoncianas, pretendendo revigorar o valor da obra de A. P. Lopes de Mendonça no contexto Oitocentista português.

 

Maria Peregrina de Sousa e Henriqueta: breve reflexão sobre os papéis da mulher na sociedade e na literatura portuguesa oitocentista

Juliana de Souza Mariano (UERJ)

 

Pesquisar sobre escritoras portuguesas do século XIX não é tarefa das mais simples. A barreira maior é a escassez de fontes, que se deve, principalmente, ao papel que cabia à mulher na sociedade dos oitocentos. Sem direitos políticos, estava sempre sob a dependência de um homem e restrita ao espaço privado. Ao penetrar num espaço que não era o seu, é compreensível que as mulheres que ousaram se afirmar como escritoras o tenham feito a princípio sob o signo do anonimato. É o caso de Maria Peregrina de Sousa (1809-1894). Teve participação profunda nos periódicos literários da época, nos quais publicou romances, poemas e contos populares, utilizando pseudônimos como “Uma obscura portuense”, “Mariposa” ou suas iniciais, “D. M. P.” Henriqueta (1876) é a base deste trabalho. Neste trabalho, pretendemos analisar as personagens femininas, principalmente a protagonista, que dá nome ao romance, e discutir de que forma o narrador a apresenta, como os outros personagens a veem, como ela mesma se vê e se as suas características correspondiam aos papéis desempenhados pelas mulheres à época. Ao trazer essa “obscura portuense” à luz, pode-se também entender como uma autora pensava a sua realidade e qual o reflexo disso na sua produção literária.

 

A “Dama Pé de Cabra” e o medievalismo romântico

Leonardo de Atayde Pereira (USP)

 

A “Dama Pé de Cabra”, narrativa presente na coletânea Lendas e Narrativas, de 1851, ocupa um lugar singular na produção literária de Alexandre Herculano, já que trata de um tema puramente fantástico, onde a personagem central é uma figura demoníaca sob a forma de mulher. Como ficcionista e historiador, Herculano buscou sempre traçar minuciosamente os quadros históricos presentes em suas narrativas. Como escritor, Alexandre Herculano foi influenciado pelas narrativas históricas de Walter Scott e Victor Hugo e por uma série de temas correntes dentro da historiografia europeia romântica oitocentista. O interesse por narrativas lendárias, identificadas com a gênese e a formação dos diversos povos da Europa, esteve presente no universo romântico europeu e essa motivação fez com que Herculano resgatasse a lenda da “Dama do Pé de Cabra dos manuscritos medievais portugueses. Como estudioso da Idade Média portuguesa, o nosso autor buscou traçar um amplo panorama da sociedade medieval, dando destaque para a compreensão do funcionamento de suas instituições e de sua cultura material. Particularmente na “Dama Pé de Cabra”, Herculano dialoga com o rico cabedal fantástico romântico e com a temática do maravilhoso medieval ibérico.

 

A recepção de Viagens na minha terra na Revista Universal Lisbonense

Maria do Rosário Alves Moreira da Conceição (UERJ)

 

Viagens na minha terra de Almeida Garrett, é uma obra única, quer pela estrutura, quer pelo estilo. É uma obra complexa, misto de narrativa de viagens, de crônica jornalística, de comentário político e de novela sentimental. Nela, Garrett coloca as suas preocupações, principalmente com os rumos de Portugal. Viagens foi publicado inicialmente na Revista Universal Lisbonense em capítulos. O fio condutor do livro é a viagem de Garrett a Santarém, para visitar o seu amigo Passos Manuel, opositor da ditadura de Costa Cabral. Assim, a opinião pública vai atribuir a essa visita um aspecto político. A proposta deste trabalho é examinar a recepção dos seis primeiros capítulos do romance na imprensa portuguesa da época, pois a obra teve a sua publicação cancelada após o sexto capítulo.

 

Fontes peninsulares do romance português oitocentista

Moizeis Sobreira (USP)

 

Frequentemente, a busca pelas fontes do romance português, nomeadamente o que se manifesta no século XIX, se baseia na teoria da vinculação ao ramo ficcional franco-inglês. Entretanto, o comparecimento da literatura espanhola na escrita romancística portuguesa desse período nos autoriza a contestar essa formulação. Com esse objetivo, esta comunicação toma como norte destacar a presença de Lazarillo de Tormes e Dom Quixote em romances camilianos, verificando em que medida esse contato impactou nos desdobramentos dessa forma no Portugal dos Oitocentos.

 

Niilismo e modernidade nas obras poéticas de Antero de Quental e de Cesário Verde.

Silvio Cesar dos Santos Alves (UERJ)

 

O objetivo de nossa pesquisa de Pós-Doutorado é investigar a relação entre niilismo e modernidade na poesia portuguesa posterior ao otimismo positivista do terceiro quartel do século XIX e anterior ao otimismo das vanguardas do início do século XX. Costuma-se demarcar o início da modernidade poética com Baudelaire, que se tornara uma espécie de crivo na determinação do que deve e do que não deve ser considerado moderno após o surgimento de sua obra. Entendendo que essa seja uma perspectiva unilateral e arbitrária, nossa pesquisa pretende se constituir a partir de uma tentativa de compreensão alternativa da modernidade. Essa compreensão tem como principal aporte teórico a interpretação que Nietzsche faz da história do pensamento ocidental como a “história do niilismo europeu”, cujo clímax é o acontecimento que ele chamara de a “morte de Deus”. Nesta comunicação, pretendemos apresentar os resultados parciais relativamente à nossa pesquisa acerca da obra poética de Antero de Quental e Cesário Verde.